Opinião

A falta de sustentabilidade no ambiente urbano

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
Professor da Furg

Pensar a cidade exige uma reflexão aberta quanto aos problemas que nos cercam e afetam a qualidade de vida, a nossa e de todos que vivem associados ao contexto urbano. Cidades expressam o estilo de vida de seus habitantes, que se mostra traduzido no modelo de urbanização e atividades econômicas que concentram.

As cidades estão crescendo e concentrando um número cada vez maior de pessoas. Mais de 55% da população mundial já vive no ambiente urbano e até 2050 vamos passar dos nove bilhões de pessoas, concentrando dois terços do planeta em áreas urbanizadas, de acordo com o relatório "Perspectivas da urbanização mundial" [World Urbanization Prospects], editado pela Organização Mundial das Nações Unidas, em 2019. O relatório sugere que grandes cidades continuarão crescendo e cidades com população superior a dez milhões de habitantes (as megacidades) tendem a apresentar um crescimento ainda maior, pelo menos até 2030, consagrando o abandono das áreas rurais.

No Brasil, até poucas décadas, éramos um país de população rural dominante, mas o cenário mudou bastante. Apesar do ritmo da urbanização estar em declínio, cerca de 61% da população atual já vive concentrada no meio urbano, de acordo com o Censo de 2022. Também, 44% dos municípios brasileiros possuem até dez mil habitantes, mas apenas 12,7 milhões de pessoas, 6,3% da população do País, vive em cidades deste porte. Ou seja, a maior parte da população brasileira vive em grandes centros urbanos. Na década de 1960 tínhamos uma população aproximada de 78 milhões de pessoas, distribuída em cerca de 2,7 mil cidades, hoje somamos 203 milhões de brasileiros, concentrados em 5.570 cidades, 102 delas com mais de 200 mil habitantes e 15 com mais de 1 milhão, de acordo com último censo. Um crescimento que tornou o gerenciamento de grandes cidades um desafio repleto de obstáculos, difícil até mesmo para os gestores mais experientes.

O inchaço do espaço urbano tem desencadeado uma série de problemas, em especial nas regiões emergentes ou regiões-alvo de investimentos, justamente porque o acréscimo populacional normalmente supera os limites da infraestrutura disponível, marginalizando o crescimento, que se dá de forma desordenada. Por outro lado, a má administração pública, a falta de planejamento urbano e o comportamento passivo da população vêm tornando a vida na cidade um verdadeiro perigo. A falta de um plano estratégico é o maior pecado de toda e qualquer grande cidade, pois sem planejamento e controle das informações, a gestão se perde e fica mais difícil para o Executivo definir prioridades, inclusive as ambientais. E quando não se tem algo que oriente o que deve ser realizado primeiro, tudo passa a ser importante, nada do que se começa é concluído no prazo e toda decisão se mostra confusa e pouco transparente.
Entre os reflexos mais marcantes está o crescimento urbano desordenado, sobre áreas sensíveis e empreendimentos urbanos autorizados a grandes distâncias, dificultando e encarecendo a viabilidade de acesso aos serviços essenciais, como: calçamento, rede de água e esgoto, energia, coleta de lixo e transporte público. Tudo isso precisa chegar lá e o pouco que chega é precário. Destaque para o saneamento básico, serviço com pior cenário de oferta entre as cidades brasileiras, a exemplo da nossa Pelotas, que acabou de figurar, mais uma vez, entre os piores índices do País, justamente porque não tem qualidade no tratamento do esgoto. Na prática, por aqui, jogamos nossos dejetos direto nos corpos hídricos que nos cercam, contaminamos tudo, comprometemos nossa saúde e qualidade de vida. Definitivamente isso é nada sustentável.

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